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Aos 94 anos, moradora de Copacabana fala sobre histórias do bairro

Publicado na edição 321 (1ª quinzena de setembro de 2011)


Marina Grillo

O ano era 1931. Copacabana ainda caracterizava-se como um bairro em crescimento. Era a época da verticalização da região, com a construção de edifícios, denominados palacetes, para tentar manter o glamour das mansões. A Avenida Atlântica ainda não havia sido alargada e o Copacabana Palace ainda não possuía sua piscina. Nesse período, a moradora Marina Grillo chegou ao bairro. Na época, tinha 14 anos e acompanhava seus tios, que vieram trabalhar no local. Passaram 80 anos e essa elegante senhora pode dizer que viu quase todas as mudanças pelas quais a princesinha do mar passou.


A família veio de Botafogo e rapidamente se adaptou ao novo endereço. “Os dois bairros eram muito parecidos, só depois que aqui ficou chique”, lembra. Marina conta que, quando chegou, Copacabana tinha um ar provinciano. “A gente ia à praia e no caminho, gritava pra chamar os moradores das outras casas”, lembra, citando que na época a Rua Figueiredo Magalhães ainda não tinha a extensão atual, pois não estava toda aberta.


Esse clima bucólico não durou muito. Na ocasião de sua chegada, já surgiam os primeiros prédios, que na década seguinte foram construídos rapidamente. A moradora lembra que as alterações aconteceram de maneira veloz: “Não foram de forma gradual. Algumas coisas desapareceram e outras vieram. Não gostei, mas o que eu podia fazer, além de conviver com as épocas?”, observa.


Para ela, a construção de alguns edifícios foi benéfica para o bairro, pois eles ajudaram a glamourizar a região. No entanto, critica as quitinetes, que segundo ela, descaracterizaram a área; e por causa disso as lojas luxuosas deram lugar ao comércio popular. Apesar de tudo, ainda considera que Copacabana seja a princesinha do mar. “Aqui é muito bonito e democrático. Muitas manifestações acontecem na Avenida Atlântica e muitos shows na praia”, ressalta.


Atualmente, Marina é aposentada. Antes, atuava como perita contadora. Prestou concurso e trabalhou no gabinete da previdência social. “Meu chefe dizia que o Brasil todo queria morar em Copacabana”, lembra, referindo-se à fama que o bairro tinha em suas épocas de ouro.


Apesar da idade, continua vivendo sua rotina normal. Gosta de andar, fazer ginástica, caminhar no calçadão. Vai sozinha ao banco e aos médicos. Essa proximidade com tudo faz com que ela goste do bairro. Questionada se trocaria o endereço por outro, mais distante, Marina nem cogita. Passou temporadas na Bahia e em Florianópolis logo após seu casamento. Ficou um ano em cada lugar e voltou para o Rio. O local escolhido novamente foi Copacabana, morou na Rua Santa Clara por mais de 30 anos. Em seguida, atendendo aos pedidos da família, mudou-se para São Conrado. Segundo ela, sua vida era mais complicada lá pela distância com o comércio. Há dois anos decidiu voltar para o bairro cuja história acompanha a sua.

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