Thayssa Rodrigues
A Fundação Casa França - Brasil é apontada como um local de parada obrigatória em qualquer roteiro turístico. O lugar integra uma região do centro da cidade conhecida como "Corredor Cultural", por ser uma área determinada como tendo forte interesse histórico e arquitetônico devido as construções centenárias preservadas ali. O edifício que abriga a instituição em questão já encanta os visitantes antes mesmo que eles entrem no recinto, pois a construção é considerada o primeiro registro do estilo neoclássico no Rio. Porém, se a fachada chama atenção de quem passa pelo entorno, o interior, deslumbrante, deixa o público ainda mais admirado. O local, vinculado a Secretaria de Cultura do Estado, oferece diversas atrações em um espaço de 700 m² que inclui: duas salas laterais, pátio, sala de leitura, lounge e bistrô. No ambiente são expostos, constantemente, diversos eventos de artistas nacionais e internacionais. A história do imponente edifício começou em 1819, quando D. João VI encomendou sua construção. Nessa época, a corte lusitana desejava modernizar o Brasil, seguindo os moldes franceses de arquitetura. Havia, nesse contexto, o interesse de instalar na região, conhecida desde 1815 como Reino de Portugal, Brasil e Algaves, uma Academia de Belas Artes inspirada no modelo de sede instalado em Paris. Para isso, o literato Joaquim Lebreton ficou encarregado de trazer ao país alguns artistas franceses para liderarem os trabalhos. Assim, teve inicio o movimento conhecido como Missão Artística Francesa que, entre outros representantes, possuiu como destaque o arquiteto Grandjean de Montigny. O profissional desembarcou no Brasil em 1816, foi professor da Academia Imperial de Belas Artes e dois anos depois liderou a construção do primeiro edifício neocolonial da cidade, projetado para servir como primeira Praça do Comercio do Rio. O lugar foi inaugurado em 13 de maio de 1820, data em que se comemorou o aniversário de D. João VI. Desde então, a praça se tornou um ponto de destaque na sociedade, sendo frequentada por comerciantes importantes em ascensão. Porém, quatro anos após o início de seu funcionamento, já no período do Brasil independente de Portugal, o local mudou as atividades e passou a abrigar a Alfândega. Foi essa a função da edificação até 1944. Depois disso, ela passou por um período de esquecimento, funcionando, até 1952, como local de depósito de arquivos do Banco ítalo- Germânico. Entre os anos de 1953 e 1978, o lugar serviu como sede para o II Tribunal de Juri. Após esse período, o tribunal mudou de endereço e o prédio voltou a ficar inativado. Ao mesmo tempo, a cidade crescia em ritmo acelerado ao redor desse espaço que, inevitavelmente, sofreu com a modernização de seu entorno. Na ocasião, alguns urbanistas de prestígio, assim como arquitetos de renome, como o famoso Oscar Niemeyer e o notável Lúcio Costa, cogitaram a possibilidade de demolir a construção. Entretanto, o edifício, que havia sido tombado, em 1938, pelo Departamento Histórico e Artístico Nacional ( hoje conhecido como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN), seguiu intacto com o passar dos anos. Porém, foram necessários mais dois anos passarem para que o espaço recebesse o devido valor e fosse visto, de fato, como um ambiente propício para a propagação cultural. Em 1980 a construção passou por uma importante reforma, liderada pelo IPHAN, para que o imóvel não fosse descaracterizado. A iniciativa valorizou o espaço, que passou a ser cobiçado por alguns empresários. Em 1984, o então Secretário de Cultura do Estado, Darcy Ribeiro, em parceria com o Ministro de Cultura da França, Jack Lang, iniciou um planejamento para a recuperação das características originais da estrutura. Nesse meio tempo, o Governo, proprietário do local desde a república, juntou aos recursos destinados a esse trabalho o auxílio oferecido pela Fundação Roberto Marinho e iniciou os serviços de restauração, seguindo as plantas originais elaboradas por Grandjean de Montigny, ainda no período da Missão Artística Francesa. Durante os trabalhos, conduzidos pela SPHAN/ Pró - memória, e apoiados por arquitetos da Fundação Roberto Marinho, entre outras coisas, foi descoberto o cais onde a comitiva de D. João VI desembarcou para a antiga Praça do Comércio. Em memória aos marinheiros, foi mantida a rampa por onde passaram, ao fundo da construção. A estrutura ganhou o reforço necessário para garantir sua segurança, sem que nada fosse descaracterizado. Nas paredes da parte interior, apontada como sendo de uma beleza impactante, foi realizado um processo de raspagem para que as sete camadas de pintura posteriores fossem retiradas, liberando o tom original empregado na época de seu desenvolvimento, um singelo marfim. A recuperação do imóvel foi lenta e perdurou pelos cinco anos seguintes. Em 1989, a parceria França - Brasil voltou a ocupar o ambiente, quando o museólogo francês Pierre Gardel se uniu a uma equipe brasileira para planejar a ocupação do espaço que viria a se tornar a sede da Casa França - Brasil, inaugurada em 29 de março do ano seguinte. Em sua história, o local passou ainda por novas reformas, a fim de torná-lo, a cada intervenção, o mais agradável possível para os visitantes. Em 2008, um novo processo de restauração foi feito e o local reabriu, recém terminado, em 2009, para comemorar o ano da França no Brasil. Atualmente, a Fundação Casa França-Brasil é vista como um dos mais belos ambientes turísticos da cidade, devido a beleza ostentada pelas paredes de seu interior, além de ter o exterior apontado como um marco do período neoclássico do Rio, por ser o primeiro edifício projetado nesses moldes. Por integrar uma área histórica do Centro da cidade, é visitada com frequência por turistas vindos de todas as regiões, que conferem a beleza da construção e participam de uma série de eventos artísticos oferecidos pelo espaço.
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