“Seja bem vindo ao local onde, em 1565, Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro”. A placa com esses dizeres, instalada na entrada da Fortaleza de São João, na Urca, indica aos visitantes a razão daquele espaço ser um endereço histórico. Passados 456 anos da chegada do militar português, muito daquele passado é conservado na fortificação, aberta para visitação guiada, mediante agendamento de grupos de até 10 pessoas.
O local é apontado como o sítio de fundação da cidade, ainda que o marco tenha sido transferido para o Morro do Castelo, que ficava no Centro, dois anos depois – com a demolição do monte, foi transferido para a Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca. Apesar de a peça não estar mais lá, ela é representada por uma réplica no museu situado na fortificação, mas até chegar lá, a caminhada é extensa. Por isso, é indicado o uso de tênis e protetor solar. Durante todo o percurso, um militar encarregado explica não apenas a história, mas também detalhes, como o de como alguns dos canhões expostos após serem retirados do fundo do mar e os bastidores por trás do reflorestamento que modificaram a paisagem no Morro de Nazaré, vizinho ao Pão-de-Açúcar.
Da fortificação primitiva erguida por Estácio de Sá em 1565, nada restou, mas o muro da construção que sucedeu àquela, em 1615, ainda está de pé, pertinho da Praia de Fora, local exato do desembarque. A estrutura convida os visitantes a seguirem a caminhada pelo Morro Cara de Cão, onde o primeiro assentamento português foi instalado, com 150 homens. O lugar foi escolhido por uma razão estratégica: os franceses já estavam ocupando a região que, atualmente, integra a Praia do Flamengo, e haviam construído o Forte Coligny na Ilha de Serigipe (posteriormente renomeada como Villegagnon). O relevo possibilitou um desembarque discreto por parte dos portugueses, que se alojaram ali e conseguiram programar o ataque que expulsou o outro grupo.
Logo na entrada, ficava o reduto mais antigo, o de São Martinho (1565). Originalmente de pau a pique, nada restou da arquitetura original da construção, a primeira feita pelos portugueses em solos cariocas. As incontáveis reformas ao longo dos séculos trasformaram o visual do espaço, que mais parece uma praça que um lugar militar. Ao lado, fica o de São Diogo (1618) – após a inauguração deste, a área foi transformada, oficialmente, em uma fortaleza. Ambos funcionavam na defesa da entrada do complexo, cujo pórtico fica exatamente no meio dos dois. A partir dali, começa um caminho de quase 2km, pavimentado por paralelepípedos para ajudar as visitas do imperador D. Pedro II ao local (ele ia pessoalmente verificar o andamento das obras de modernização encomendadas por ele).
Em meio à caminhada, paisagens já conhecidas dos cariocas se descortinam em ângulos inéditos para a maioria. Da lateral de uma antiga guarita, parte da Urca e a orla de Botafogo e do Flamengo são as atrações, com o Corcovado ao fundo. Seguindo, exemplares diversos da fauna e da flora locais podem ser avistados – no dia da visita da equipe do Jornal Posto Seis, três jacupembas, aves apontadas como raras de serem vistas no local, puderam ser contempladas.
Seguindo o passeio, chega-se à Bateria Coronel Marques Porto, usada até 1979. Seus canhões, fabricados em 1893, foram transferidos no começo do século XX por navios da Marinha e marcaram uma nova etapa da artilharia de fortificações, com alcance de mais de 15km, o que surpreendia embarcações inimigas. Mais à frente, novamente a paisagem volta a impressionar pela beleza. Daquele ponto, pode-se ver um panorama do Centro, do aeroporto Santos Dumont, da ponte Rio-Niterói e do litoral daquela cidade, além de parte da Baía de Guanabara. O destaque fica por conta do Forte Tamandaré da Laje, situado em uma ilhota na entrada dela e visível de bem perto.
Aquele é o melhor ponto de todo o Rio de Janeiro para conferir a construção do século XVII e, que, no passado, serviu de prisão para nomes importantes como o líder da Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves. Parte do litoral de Niterói, com o Museu de Arte Contemporânea e a Praia de Icaraí visíveis, complementam o visual.
Caminhando mais um pouco, chega-se ao terceiro dos redutos, o de São Teodósio (1572). Ele foi uma das primeiras defesas da região instaladas pelos portugueses, que haviam chegado ao Rio apenas sete anos antes. Bastante reformado ao longo dos séculos, atualmente é o endereço do “Canhão-Vovô”, que por muito tempo foi o maior do Exército brasileiro – para carregá-lo, eram necessários 15 homens, que levavam 20 minutos para prepará-lo para atirar. A peça, fabricada em 1872, foi usada na Revolta da Armada, movimento contrário ao governo de Floriano Peixoto.
Alguns metros à frente, fica o Forte São José, construído por ordens de D. Pedro II no lugar do reduto homônimo, que, no passado, teve grande importância ao defender o território contra a invasão da esquadra do corsário Jean-François Durclérc (1710). O antigo paiol deu lugar ao Museu Histórico da Fortaleza de São João. O local apresenta materiais variados contando a história da fortificação. Paineis e peças variadas ajudam a contextualizar o período retratado. É ali, inclusive que os visitantes podem conferir a réplica do marco de fundação da cidade, mencionado no início desta reportagem. O passeio continua pelo pavimento inferior, acessado pelas escadas situadas do lado de fora. Ali, existem 17 casamatas bem conservadas, por onde o passeio é encerrado.
As visitas devem ser agendadas previamente pelos telefones 2586-2291 e 97295-5891 (que também é Whatsapp) através do e-mail sitiohistorico.fsj@gmail.com. Em decorrência da pandemia de COVID-19, são aceitos grupos até 10 pessoas.
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