O Paço Imperial é um dos endereços das principais decisões políticas na época da monarquia, como a assinatura da Lei Áurea e a declaração do apoio do imperador D. Pedro II ao povo brasileiro, o que deu início ao processo de independência do país. Nos dias recentes, a função política foi trocada pela cultural: suas instalações foram transformadas em biblioteca, salas de exposições, livraria, bistrô e restaurante. O terreno, originalmente pantanoso, foi ocupado pelos carmelitas, que ergueram ali, além do Convento do Carmo, prédios com a Casa da Moeda (que fundia o ouro vindo de Minas Gerais para fabricar o dinheiro usado no território. A instituição funcionou na estrutura erguida de frente para a Rua Direita - atual Primeiro de Março - entre 1706 e 1714) e o Armazém D'El Rey (que guardava as armas e as munições reais e se situava nos fundos da Casa da Moeda). Livros indicam ainda que o melhor ferreiro do Rio de Janeiro trabalhava ali. Essas estruturas resistiram até 1734, quando o governador Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, obteve autorização para erguer, no lugar delas, sua residência política. O projeto foi encomendado ao arquiteto José Fernandes Pinto Apoim e os prédios foram incorporados à nova construção, que recebeu um segundo andar. Em 1757, o governante promoveu uma festa na qual um fato curioso aconteceu: nenhuma mulher compareceu e os homens presentes foram recebidos por outros homens, vestidos de forma feminina, que os chamavam, em vão, para dançar. Outra reforma adicionou mais um pavimento ao imóvel em 1763, quando o Rio de Janeiro tornou-se a capital do Brasil (a anterior era Salvador e a escolha da nova cidade foi devido à proximidade com a região de Minas Gerais, o que facilitava o escoamento do ouro, além de ser a cidade mais povoada do vice-reino) e a Casa dos Governadores foi transformada em Paço do Vice-Rei. Apesar da nova função, o Armazém D'El Rey funcionou ali até 1808, ano da chegada da família real ao Brasil. Com a vinda da Corte, a Casa dos Governadores foi apossada pelo príncipe-regente D. João VI, que transformou-a em Paço Real. O local era o único na cidade com capacidade para oferecer um mínimo de conforto à realeza, até a Quinta da Boa Vista ser adaptada para recebê-la. Mesmo assim, passou por várias obras, que alteraram inclusive sua fachada. Com a mudança, o Largo do Carmo (antigo nome da Praça XV) teve seu nome alterado para Largo do Paço. Uma das principais mudanças trazidas pelas reformas foram as passarelas, que conectavam o prédio aos lugares importantes do entorno. Com elas, não era necessária a passagem pelos logradouros públicos para sair do Paço e ir aos lugares importantes. Um dos caminhos, por cima da Rua São José, levava à Casa de Câmara e Cadeia (demolida em 1922 para a construção do Palácio Tiradentes). O outro, atravessando a Rua Direita (atual Primeiro de Março), ao Convento do Carmo, que passou a ser a moradia da rainha D. Maria, separada dos familiares devido às crises causadas pelos seus problemas mentais; sede da Biblioteca Real Instituto de Física; depósito de alimentos da Corte e galinheiro. De lá, em 1857, foi construída mais uma passagem, dessa vez para a Igreja de Nossa Senhora de Monte do Carmo, escolhida como a Capela Real. Esta passava por cima do recém-aberto prolongamento da Rua do Cano (atual Sete de Setembro), que, até então, não chegava ao Largo do Carmo. O local foi o endereço de vários momentos importantes na história do Brasil. Com a volta do rei D. João VI a Portugal, após a expulsão das tropas responsáveis pela fuga da Família Real e devido à pressão do povo europeu, seu filho, D. Pedro, permaneceu no território como príncipe-regente. Com o retorno de D. João, os direitos concedidos anteriormente, quando o Brasil foi elevado à categoria de vice-reino (1763) foram eliminados, pois havia o interesse em transformar a região novamente em colônia. Para isso acontecer, foi exigida a volta de D. Pedro. Isso incomodou os liberais do Partido Brasileiro, que organizaram um abaixo-assinado exigindo sua permanência. Em 9 de janeiro de 1822, contrariando as ordens, ele apareceu na varanda do Paço para declarar ao povo (que lotava o largo) que ficaria no Brasil. Sua iniciativa deu início ao processo que culminou na independência, em 7 de setembro do mesmo ano. Foi no Paço que aconteceram também as coroações dos imperadores D. Pedro e D. Pedro II, em 1822 e 1841, respectivamente. Um dos últimos momentos políticos da casa foi quando ela se tornou o destino dos manifestantes que pediam a Proclamação da República em 15 de novembro de 1898 - ela foi proclamada nesse mesmo dia, à tarde, na Câmara Municipal. Após esse episódio, o Paço Real passou a ser chamado de Paço Imperial. Ganhou também nova função: foi transformado na agência central dos correios e telégrafos e em um museu desses meios de comunicação até até 1982, quando a Prefeitura reivindicou o imóvel para fundar nele o Museu da Cidade. Havia planos de instalar ali a sede da administração municipal e houve quem falasse em dividir os usos. Apesar do prédio ter sido tombado pelo Patrimônio Histórico em 1938, isso não impediu obras que descaracterizassem seu interior (apenas as arcadas, a escadaria e a cúpula foram preservados) e alterassem sua fachada. Com a proposta de revitalização do Paço Imperial, o pedaço da Praça XV entre ele e o Palácio Tiradentes voltou a ser renomeado como Largo do Paço, em homenagem aos tempos áureos da construção. As obras de restauração, inicialmente, visavam desfazer somente as alterações feitas no prédio após a década de 1920. No entanto, a descoberta de registros antigos permitiu que o aspecto colonial fosse recuperado. Uma área de cerca de 1 mil m2 da construção foi demolida - ela havia sido feita ampliando o terceiro andar após a proclamação da República. Os pátios internos, substituídos por edificações (que foram destruídas) também foram restaurados. O teto, que havia sido rebaixado, foi novamente levantado; o chão, descoberto após passar décadas escondido por pavimento de plástico; as esquadras das janelas, destruídas para a instalação de aparelhos de ar condicionado, reconstruídas e as telhas, substituídas. As divisórias que reduziam os espaços das salas também foram retiradas. O trabalho demorou dois anos para ser concluído e foi realizado com o auxílio de fotos antigas, já que a planta original não foi encontrada. Mesmo assim, as intervenções arqueológicas identificaram o Armazém D'El Rey, uma chaminé da Casa da Moeda e o poço de abastecimento. A inauguração do Paço Imperial como centro cultural aconteceu em 1985. Sua história ganhou uma exposição permanente própria, que, atualmente, ocupa a área onde, nos primórdios da ocupação do local, era destinada ao derretimento de ouro e à fabricação das moedas. Na parte de trás, o ateliê do artista plástico Sérgio Camargo funciona no antigo depósito de armas e munições. Há ainda a exposição permanente Arquitetura Brasileira e Patrimônio Moderno, além de mostras temporárias com programação variada.
Fonte: BERLINCK, Deborah. Formas originais e um centro cultural para a Praça 15. O Globo, Rio de Janeiro, 31 de julho de 1983, página 25. KAPLAN, Sheila. De volta à velha forma, o Paço reabe suas portas. O Globo, Rio de Janeiro, 6 de março de 1985, página 3. SN. Paço terá de ser restaurado para tornar-se Museu do Rio. O Globo, Rio de Janeiro, 28 de maio de 1979, página 9. SN. Paço Imperial volta às origens e revela história. O Globo, Rio de Janeiro, 4 de junho de 1984, página 7. In: http://www.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=4D5495BB3FF97C06708D8CB23B661E2A?id=15504&retorno=paginaIphan In: http://www.casadamoeda.gov.br/ In: http://www.conciergecarioca.com.br/index.php?view=article&catid=47%3Acentros-culturais&id=1016%3Aonde-ir-passeios-centros-culturais-centro-cultural-paco-imperial&format=pdf&option=com_content&Itemid=2&lang=pt In: http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/turismo/paco-imperial-de-morada-dos-nobres-a-centro-cultural/ In: http://www.circuitorioantigo.com.br/pacoimperial.html
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