Antes mesmo de a necessidade da proteção do meio ambiente ganhar destaque na sociedade, o Jornal Posto Seis já dedicava suas páginas para chamar a atenção para o assunto. Ao longo dos seus 25 anos, reportagens com vieses diversos levaram aos leitores desde denúncias de questões consideradas crônicas até divulgação de ações que visam melhorias.
As línguas negras foram frequentemente noticiadas ao longo do tempo. Em 2006, a Prefeitura realizou obras para acabar com elas na altura das ruas Sousa Lima e Santa Clara, mas, passados dois anos, o problema, apontado como endêmico, seguia noticiado pelo Jornal Posto Seis, já que, naquela data, a intervenção ainda não havia sido concluída. Barraqueiros que trabalhavam no entorno foram consultados e demonstraram sua indignação: “A Prefeitura melhorou um pouco a areia, mas a água fica pior a cada ano”, queixou-se um deles. Dentre os frequentadores da praia, as observações apontaram a perda da diversidade, principalmente no que diz respeito à falta de tatuís naqueles trechos da praia – passada mais de uma década daquela publicação, a espécie dificilmente é vista onde antes era farta. Outra reportagem, de 2010, novamente abordava essa situação, atribuindo a sujeira às galerias de águas pluviais com conexões com o esgoto. Apesar do mal cheiro, foi destacado que crianças brincavam naquelas poças, correndo o risco de desenvolverem diversas doenças.
A poluição das águas também foi abordada em uma reportagem especial sobre os rios que desembocam na Baía de Guanabara. O problema foi associado pelo biólogo Mário Moscatelli ao crescimento urbano desordenado nos municípios do entorno – naquela data (2014), 85% das residências sequer possuíam sistema de esgoto, conforme informado pela Secretaria Estadual de Ambiente, o que afetava diretamente a biodiversidade e as possibilidades de exploração sócio-econômica deles. A preocupação com as provas olímpicas programadas para aquele espaço ganhou visibilidade e mesmo após o fim do evento, as metas ambientais assumidas no dossiê de candidatura do Rio aos jogos seguem descumpridas.
Outra questão debatida em reportagens foi a instalação de boias oceanográficas, que ajudam a evitar acidentes causados por ressacas. Esse tipo de instrumento é capaz de detectar qualquer movimento incomum na superfície e no fundo do mar, o que minimizaria riscos como o que, pouco tempo antes, atingiu um catamarã que fazia a travessia entre Charitas e Praça XV, em 2008. Na mesma data, a água invadiu a faixa de areia e quebrou o calçadão no Leblon e no Arpoador. Essa situação se repetiu em Copacabana incontáveis vezes, o que fez o Jornal Posto Seis, em diversas publicações, defender a instalação de um recife artificial.
A primeira menção foi feita pouco após a reportagem anterior, em setembro daquele ano, e vantagens econômicas, recreacionais e na fauna foram abordadas, assim como os benefícios turísticos. Naquela época, vários lugares do mundo já contavam com a estrutura; no Brasil, o exemplo de Santos, no litoral paulista, foi apresentado – no ano seguinte, uma instrução normativa do Ibama autorizou esse tipo de equipamento utilizando materiais não-poluentes. Em 2011, o tema foi retomado em uma reportagem especial que ocupou três páginas no jornal. Nessa nova ocasião, o oceanógrafo David Zee defendeu a estrutura devido à mudança do local de formação de ressacas decorrente do aquecimento global. O especialista, entretanto, ressaltou ser favorável apenas se fosse realizado um estudo complexo apontando os possíveis impactos.
Os danos frequentes causados pelas ressacas levaram o então vereador Carlo Caiado a fazer uma indicação legislativa a diversos órgãos pedindo pela construção, cinco anos após a reportagem anterior. Menos de duas semanas depois, ondas de até 4m alcançaram a pista de rolamento dos carros, levando o assunto a ser debatido na Câmara Municipal, o que também foi acompanhado pelo Jornal Posto Seis. Nessa nova ocasião, o professor Paulo Cesar Colonna Rosman apontou que é natural a faixa dinâmica costeira seja erodida em determinadas épocas; porém, ressaltou que ela deveria ser recuperada em outras, o que a natureza não vem fazendo. Já o engenheiro costeiro Luiz Guilherme Morales de Aguiar citou o projeto-piloto do recife artificial de Maricá, que custaria o mesmo valor orçado para a reconstrução do calçadão da Praia da Macumba, que já havia sido destruído outras vezes antes e recebido investimentos que, somados, custariam mais caro que a medida para prevenir esses incidentes. Nessa altura, outras praias brasileiras em Búzios (RJ) e São Sebastião (SP) já haviam sido contempladas.
Apesar das diversas reportagens sobre os recifes artificiais, outras questões ambientais também foram noticiadas, como o desaparecimento das árvores e a falta de manutenção nas que permaneceram. Em 2019, após a queda de 1.348 entre janeiro e abril em toda a cidade, a equipe do Jornal Posto Seis foi às ruas analisar o déficit principalmente no Leme, onde quase todas as ruas contavam com demandas nessa área, o que gerava receio nos moradores, que temiam novas quedas devido ao peso dos galhos. O pior endereço era a Avenida Atlântica, onde faltavam 11 árvores anteriormente plantadas – desde então, outras foram replantadas, mas houve novas derrubadas, sendo a mais recente no fim de maio de 2021. Outras pautas foram destinadas a exemplares únicos em Copacabana, como o assacu centenário da Rua Pompeu Loureiro, o jequitibá bicentenário do Parque da Chacrinha e os diversos exemplares frutíferos do bairro, como a mangueira que se entrelaça com uma jaqueira, também na Rua Pompeu Loureiro, confundindo quem passa por ali e acredita que se trata se uma única árvore com os dois frutos.
Em meio à preocupação ambiental, o Jornal Posto Seis apoiou diversos mutirões de conscientização e limpeza da praia. Resíduos como guimbas de cigarro, canudos, copos descartáveis, garrafas de plástico, embalagens de biscoitos, dentre outros, são comumente retirados da areia pelos voluntários, que, enquanto desempenham a ação, percebem a importância de cada pessoa recolher o próprio lixo, visto que o volume coletivo é imenso. Além de divulgar todas as edições dessas ações, realizadas várias vezes ao ano, em momentos diversos a equipe também participou e noticiou o resultado, inclusive quando os trabalhos foram feitos na Ilha Comprida, no Arquipélago das Cagarras. A área de preservação ambiental daquele terreno, um monumento natural, também foi exaltada em várias reportagens, que destacaram principalmente a fauna que vive por ali.
Ainda sobre destinação de resíduos, o Jornal Posto Seis divulgou o trabalho do artista plástico Alfredo Borret, que transforma em arte as tampinhas metálicas de garrafas de cerveja ou refrigerante. Esses materiais levam em torno de 100 anos para se decompôr na natureza e por meio da reutilização em quadros, mais de 300 mil deixaram de ser lixo. O plástico que foi apontando como o grande vilão ao longo de várias reportagens e inclusive foi o principal tema abordado na conferência anual do Clean Up The World em 2020, publicada na edição de outubro. Em janeiro de 2021, novamente a questão foi abordada, tamanha a necessidade de mudanças. Naquela data, a diretora de comunicação do Instituto Clima de Desenvolvimento Sustentável, Anna Turano, apontou que os microplásticos estão presentes até nos alimentos consumidos e na água ingerida pela população.
As reportagens anteriores que relembram os 25 anos do Jornal Posto Seis podem ser conferidas em www.postoseis.com.br.
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